O choque da identificação com o Tipo 5 no Eneagrama

03-10-2019

Testemunho de como foi a descoberta do Eneatipo: o que mais doeu e o que tem mudado desde então.

Quando percebi que me identificava com a personalidade do Tipo 5 no Eneagrama foi um choque porque se algumas características faziam sentido como a necessidade de privacidade, o gosto por aprender, ser discreta, falar pouco e pensar muito, outras características não conseguia compreender.

Fria? Emocionalmente distante, eu? E pior, ainda, lembro-me de ouvir descrever esta personalidade da seguinte forma: " O Tipo 5 mora num castelo. À volta tem um fosso com crocodilos e uma ponte levadiça que de vez em quando baixa para deixar entrar alguém".

Como é que eu podia ser assim... Ocorreu-me a lembrança de todos os anos fazer a árvore de Natal, não porque eu gostasse de a fazer. Não encontro nenhum sentido no Natal nem sequer gostava de decorar a árvore de Natal, mas fazia-o para a minha mãe porque ela gostava... Ainda assim, ela às vezes dizia que eu era um bicho do mato!

Então comecei a observar-me... Percebi como é difícil o movimento de ir ter com os outros. Principalmente se não há um motivo profissional, ou algo que torne necessária e objetivo essa atitude.

Comecei a ficar desconfortável com a gaveta das prendas que ficam por entregar nos Natais, ou nos aniversários porque quando os amigos não apareciam nessa altura, ficava a sensação de não fazer sentido ir, depois "incomodá-los", para lhes dar a prenda.

Igualmente desconfortável é telefonar para alguém. Há sempre o receio de ir interromper o outro, não saber se é oportuna a chamada, ou se a outra pessoa vai querer falar comigo.

O pior mesmo, foi perceber o quanto gosto "das minhas pessoas" e que afinal na generalidade me achavam fria e distante. Então descobri que elas não conseguiam perceber o quanto gosto delas e que é preciso dizer "Gosto de ti!" com as palavras todas!

Também me via como uma pessoa "transparente" capaz de ir aos lugares, entrar e sair com a convicção de ninguém dava por mim. Afinal, com o Eneagrama percebi que não é bem assim, e que mesmo esta postura "apagada" não deixa de ter impacto nos outros.

Estes foram alguns dos pontos que mais "doeram" com a descoberta do Eneagrama. Ao perceber estes exageros da personalidade, sei que eles ainda estão cá, mas já consigo em consciência ir agindo de forma diferente, (pelo menos de vez em quando). Consigo ser espontânea mais vezes, habituei-me aos "abracinhos", convido mais os amigos para sair e digo que gosto deles!

Estou a aprender a relacionar-me mais abertamente com o centro emocional e ainda não percebo muito bem como, pois, muitas vezes é um desafio à lógica, mas já encontrei aí respostas para alguns dos meus muitos "porquês"!

Helena Portugal